Quem é Tuta, o 'CEO do PCC', preso na Bolívia
Marcos Roberto de Almeida, preso este mês na Bolívia era um homem de confiança da facção fora dos presídios; Fantástico obteve documentos inéditos que mostram Marcola conversando em código sobre Tuta Imagens e documentos exclusivos mostram como Tuta se tornou um dos chefes do PCC
O Fantástico traça neste domingo (25) o perfil de um traficante brasileiro que estava na lista da Interpol e foi preso há nove dias na Bolívia: Marcos Roberto de Almeida, conhecido como Tuta. Imagens e documentos inéditos mostram como um homem que cometia pequenos crimes na década de noventa se tornou um dos chefes da facção criminosa PCC.
Um traficante internacional, com crimes que se espalham por países como Bolívia, República Dominicana, Itália, e Moçambique.
"Esse tipo de criminoso, eles são como o CEO do crime, o CEO do PCC na época e até pouco tempo atrás era o Tuta", descreve o promotor Lincoln Gakyia.
Em 16 de maio, imagens obtidas pelo Fantástico mostram o momento em que Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, foi preso em um posto de serviços do governo na Bolívia.
O procurador-geral da Bolívia, Roger Mariaca Montenegro, informou que Tuta tentava renovar uma carteira de identidade em Santa Cruz de La Sierra. E que os antecedentes apontavam que ele teria cometido crimes de falsidade ideológica e uso de documentos falsificados.
A partir das imagens e dos dados recebidos da Polícia Boliviana, a Polícia Federal brasileira inseriu informações na base de dados e, com um cruzamento de dados, a polícia boliviana recebeu as informações que precisava para efetuar a prisão.
Ao ser preso este mês na Bolívia, Tuta usava uma identidade com o nome de Maycon Gonçalves da Silva. Segundo os investigadores, o documento falsificado foi obtido na República Dominicana.
Tuta não estava sozinho. O homem que estava com ele foi identificado como o major Gabriel Soliz, um policial boliviano que trabalharia como segurança do brasileiro. Soliz foi preso na quinta-feira (22).
Foi o capítulo final de uma trajetória de crimes que começou em São Paulo 35 anos atrás. Documentos obtidos pelo Fantástico mostram que as primeiras prisões de Tuta foram na década de 1990 por crimes com penas menores, como direção perigosa, porte ilegal de arma, extorsão, e uso de documentos falsos. Tudo mudaria a partir de 2006. Quando ele se aproximou do principal chefe do PCC: Marcos Camacho, o Marcola.
O promotor Gakyia afirma: "O Tuta é um integrante que participou ativamente dos negócios do PCC em 2006, quando houve os ataques. Nós conseguimos prendê-lo em dezembro de 2006, ele veio aqui para a Penitenciária II de Presidente Venceslau". Nessa época, Marcola cumpria pena na mesma penitenciária. A relação de confiança entre os dois aumentou. Até Tuta passar para o regime semiaberto em 2011.
Consulado de Moçambique
Tuta usou a liberdade para crescer na facção. Em 2018, foi contratado como adido comercial do consulado de Moçambique em Belo Horizonte. O salário era de R$ 10 mil. Ganhou crachá e até cartão de visita. Imagens mostram jantares de negócios, e revelam a proximidade entre o traficante e o então cônsul Deusdete Januário Gonçalves.
Em depoimento à justiça, o ex-cônsul declarou que Tuta preenchia todos os requisitos necessários para o cargo. E que a missão dele era apresentar ao consulado empresas dispostas a investir em Moçambique. Para o Ministério Público, o interesse do traficante era outro.
"Na verdade, o que o Tuta queria era estabelecer uma rota de tráfico internacional de cocaína para a Europa, do PCC, a partir do continente africano. E, para isso, eles usaram o Moçambique", afirma o promotor Lincoln Gakyia.
Segundo os investigadores, Tuta teria fechado acordo com integrantes de uma máfia italiana.
Em nota, a defesa do ex-cônsul Deusdete Gonçalves afirma que ele é investigado em procedimento que tramita sob segredo de justiça. Mas que ele jamais integrou qualquer prática ilícita ou organização criminosa.
O governo de Moçambique foi procurado, mas o Fantástico não obteve resposta.
Vida de luxo
Com o dinheiro do tráfico internacional, Tuta tinha uma vida de luxo. Viajava de jatinho. Comprava lanchas, móveis no Morumbi, em São Paulo, e em Peruíbe, no litoral paulista. E tinha até uma empresa de ônibus na baixada santista.
Em 2020, uma operação do Ministério Público revelou como a maior organização criminosa do Brasil está atuando em bairros residenciais de São Paulo. Na Operação Sharks, Tuta teve a prisão preventiva decretada. Mas o criminoso escapou poucos minutos antes de a polícia chegar à casa dele.
Conversa por códigos
Além de ser procurado pelas autoridades, ele passou a ter problemas também dentro do PCC. Investigações apontaram que, em julho de 2021, Marcola, preso em Brasília, teria pressionado o PCC para colocar em prática um plano de fuga da penitenciária federal. Mas que teria sido informado que Tuta não estaria atuando de forma satisfatória.
Marcola foi tomar satisfação. Em trechos de vídeos inéditos, o Fantástico teve acesso a conversas com códigos descobertos pelo Ministério Público. Durante visita de sua mulher à penitenciária, o chefe do PCC demonstra a insatisfação com a demora de Tuta em executar o plano de resgate. Ele diz: "ele é estrela, mas acontece que é o seguinte a partir do momento que ele se comprometeu, ele não pode voltar atrás". E: "então falar pra acionar isso entendeu, fazer isso acontecer porque foi o que ele me prometeu".
Em outra conversa, a advogada de Marcola tenta convencê-lo a dar mais tempo a Tuta. Os dois se referem a ele como se fosse um advogado. Marcola diz: "é que eu não confio nesse aí entendeu?". A advogada insiste: "é, mas a defesa dele foi bonita, a defesa dele foi bonita, foi boa.. foi boa... a preliminar foi boa, foi bem técnica, foi bem objetiva".
O plano de fuga não deu certo. Mas Marcola manteve a confiança em Tuta.
Preso com Marcola
Tuta está preso na penitenciária federal de segurança máxima de Brasília onde também está Marcola. Segundo as autoridades, os dois não vão ter qualquer tipo de contato. Tuta está numa cela especial, chamada de inclusão.
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